O Salão de Arte Contemporânea de Santo André se encontra em sua 43ª edição, foi criado em 1968, e é uma iniciativa da prefeitura. Este ano o salão recebeu mais de 400 inscrições, e teve por mote a evidenciação da capacidade reflexiva das obras de arte, tanto no campo estético como no social.
A exposição é composta por instalações e por obras plásticas, que se utilizam das mais diversas técnicas. Muitas das obras apresentadas são surpreendentes em suas qualidades reflexivas, visto que evitam uma panfletagem ingênua, ou pouco sutil, e que também são capazes de interagir diretamente com o público.
Há uma instalação com grande capacidade imersiva: é o Mural de Adriana Aranha, uma obra composta por duas grandes paredes, nas quais estão dipostas as mais variadas palavras-cliché usadas para caracterizar o mundo contemporâneo, mas também algumas expressões pouco convencionais. O fone de ouvido, deixado em cima de um cubo branco, convida-nos a compreender melhor o trabalho, e quando aceitamos o convite, o sotaque nordestino da artista penetra em nossos ouvidos, declamando um poema atordoante, composto pelas palavras dispostas no mural, de maneira a ressignifica-las.
Outra artista que merece destaque é Talita Hoffman, suas telas em cores chapadas, bem no estílo do Design Gráfico, são na verdade feitas com tinta acrílica sobre tela. As duas obras de Talita, expostas no salão, apresentam pelo menos dois duplos movimentos: A linguagem extremamente contemporânea, que remete ao digital, é realizada analogicamente; os espaços apresentados, sinônimos de ordem (estante), ou confraternização (salão de festas), são concebidos como bastidores do mundo, cheios de entulhos e alheios à presença humana, numa espécie de escavação em busca dos significados que costumamos recalcar.
Um outro trabalho muito sensível é o de Maria Glender, que dispôs contra-capas originais da coleção de revistas de bordados No Mundo dos Trabalhos Maravilhosos (de 1970). A mera disposição dos objetos nos leva a penetrar neste mundo passado, bem como neste hábito - o de bordar - quase extinto, criando ainda uma atmosfera um tanto nostálgica, a partir do título da coleção, que transforma um mundo passado num mundo maravilhoso, mas melancolicamente inacessível,
Ademais, existem alguns artistas que demonstram pleno domínio de técnica e linguagem, porém acabam por não atingir o tema do contemporâneo com tanta propriedade reflexiva, apresentando, no entanto, forte apelo estético, ou filosófico (em sentido mais abrangente). Neste espectro, pode-se mencionar Evandro Rin, que cria um belo jogo de ilusão óptica com suas figuras geométricas em relevo; e Renato Leal, cujas telas da série Oceano, em nanquim, evocam a tempesttuosidade emocional e a pequenez do ser humano.
Como um todo, a exposição funciona muito bem, e demonstra que, a despeito do que se costuma dizer, existe produção contemporânea de qualidade no campo das artes. Vale a visita!
Talita Hoffman- Salão de Festas, 2014
Tela sobre acrílico, 80 X 160 cm
Evandro Rin-Sem Título,2015
Desenho sobre parede branca, perpendicularmente
em vinil adesivo e metal, 2,0 cm X 2,0 cm X 0,20 cm
Renato Leal-Sem Título, 2013
Da série Oceano, Acrílica e nanquim sobre tela
40 X 50 cm
Maria Galender-Trabalhos Maravilhosos, 2014
Contra-capas originais da Revista No Mundo dos Trabalhos Maravilhosos (1970)
1, 90 X 1,50 m
Quanto: Gratuito
Quando: De terça a sábado, das 14h às 19h
Onde: Salão de Exposições do Paço Municipal de Santo André
Até dia 27 de junho
http://www.santoandre.sp.gov.br/biblioteca/agenda/agenda.pdf
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